terça-feira, 17 de abril de 2007

Estranha, mas nem tão perfeita assim


Quantas pessoas diferentes podemos ser ao mesmo tempo, afinal? A vida dupla com um toque de sedução, fetiches, diálogos on-line de conteúdo proibido para menores, com doses significativas de erotismo pode ser visto em "A estranha perfeita" (Perfect Stranger), de James Foley, que já dirigiu a pop star Madonna na comédia "Quem é essa garota?" (Who's that girl?, 1987), aquela mesmo em que a cantora faz o estilo maluquinha e selvagem e conquista um advogado quadradão prestes a se casar. Com certeza você já deve ter assistido as inúmeras reprises na Sessão da Tarde (Rede Globo).

O filme segue a linha do suspense, com um tom drámatico, em que a jornalista investigativa Rowena Price, vivida por Halle Berry (X-Man - O confronto Final, 2006) após o assassinato de uma amiga, resolve se infiltrar no mundo digital do sexo e suas relações virtuais, a fim de estabecer ligações entre o crime e o esquema. Com a ajuda de seu parceiro e amigo Miles (Giovanni Ribisi), que cultiva ainda, uma espécie de paixão não-correspondida por ela, Rowena se joga numa teia improvável e até mesmo, surpreendente, que envolve também, um dos mais famosos publicitários nova-iorquinos, Harrison Hill, a quem Bruce Willis (Xeque-Mate, 2006) empresta seu charme cinquentão.

E por falar na dupla, não posso negar, que há uma certa química entre eles, apesar da atuação razoável. Ela, várias mulheres dentro de uma mesma, entre Veronica (a assanhada da web), Katherine Poe (a temporária que trabalha na agência) e a própria Rowena, sexy, decidida e manipuladora, porém pertubada por lembranças e rancores do passado. Berry dá até uma levantada na carreira saindo da mesmice de personagens como a heroína mutante Tempestade, mas não chega a Leticia Musgrove, atuação que lhe rendeu o Oscar em 2002, em "A Última Ceia". Talvez estranha, mas não perfeita. Já Bruce, faz um chefão poderoso, de aliança no dedo, no entanto, exímio pegador de funcionárias dos mais diversos setores. Ponto para a elegância de Bruce Willis, que contrasta com a figura de machão bem-dotado, apesar da sua aparição meio morna, comparado a outros personagens que já desempenhou por aí.

Será que a perfeição e a estranheza está em se conviver com várias faces dentro de você? Quem sabe... O filme até põe em discussão esses lados de uma mesma pessoa, colocando, principalmente, a Internet como um local propício a essa diversidade de personalidades, em que você pode ser quem quiser, mas se perde ao tentar ligar isso não apenas a interesses ou situações, mas também a traumas marcantes. Muita justificativa para pouco filme. Se ficasse apenas no âmbito do ciberespaço mesmo, talvez o resultado fosse melhor. São esses flashes em forma de traumas mal-resolvidos que até que tentam dar uns sustinhos... Pena que, sem sucesso. Continue comendo sua pipoca, você nem corre o risco de engasgar. É um suspense, mas que não assusta. Pode?

"A estranha perfeita" seduz pelo pôster, mas não conquista pelo filme. De vítima desprotegida Halle Berry não tem nada, assim como Bruce Willis passa longe de um ninfomaníaco sexualmente pevertido. O eixo do conflito vai se perdendo no decorrer do longa, onde todo mundo é suspeito, ninguém é culpado. Detalhe para o epílogo: o desfecho desconstrói a narrativa de tal maneira, que você se pergunta: porque que eu assisti aquilo então? a reviravolta arrasa em dez minutos aquela uma hora e meia que você acabou de assistir. A intenção é boa, mas o desencadeamento da trama é falho. Não há uma trama inteligente ou logicamente viável.

Ele até tenta forçar esse quebra-cabeça, mas... Tamanho é o embaraço que se faz quanto as causas e a maneira como o crime fora premeditado e posto em prática, que o triller torna-se lento, massante. Sabe quando você cria aquela expectativa e na hora de mostrar serviço, não cumpre o que promete? Pois então... a idéia é mais ou menos essa. Porém, não saia do cinema antes do final, por favor. Não chega a ser perfeito, mas pra quem já ficou esse tempo todo aí esperando um clímax fervoroso, não custa nada esperar mais um pouquinho...


Onde assistir:
UCI Shopping Aeroclube - Sala 8 ( 291 lugares) 15:40; 19:10; 22:00

Um comentário:

Célia Regina Cerqueira de Souza disse...

As contraindicações estimulam tanto quanto as indicações.

Adorei ver que você enveredou para a crítica. Sou fascinada por esta vertente do jornalismo.

Continue assim!

Célia Regina Cerqueira de Souza